Liderar com sabedoria não é apenas servir, mas também preservar a alma — a inteligência emocional é dom espiritual na obra pastoral
Um poço vazio não pode saciar sede. Um farol apagado não guia navios.
Nós, que caminhamos no chão do ministério, sabemos que o chamado pastoral não é um cargo, mas uma entrega — uma vocação selada no espírito e provada no fogo das relações humanas. Nós somos chamados a portar as cargas dos outros (Gálatas 6:2), mas raramente nos ensinam a carregar essa cruz sem quebrar nossa própria estrutura emocional.
O púlpito exige santidade, mas a vida congregacional exige equilíbrio. E é nesse encontro entre graça e realidade que a inteligência emocional emerge não como moda psicológica, mas como fruto maduro do Espírito (Gálatas 5:22-23) em ação prática.
Nós, líderes, somos treinados para ouvir, consolar, aconselhar, interceder. Mas quem nos ouve quando o coração pesa? Quando a dúvida sussurra no silêncio do gabinete após o culto? Quando a crítica fere mais fundo do que deveria?
A Bíblia não ignora isso: Davi, homem segundo o coração de Deus, clamou no salmo: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Salmo 42:2). Até o maior dos reis precisou reconhecer sua fragilidade emocional diante da ausência percebida de Deus.
Por isso, desenvolver inteligência emocional não é ceder ao mundo, mas exercer domínio próprio — um dos frutos do Espírito (Gálatas 5:23).
É saber identificar nossas emoções, não reprimi-las nem deixá-las governar, mas submetê-las à verdade revelada. É ter discernimento para dizer “não” quando o sim custaria nossa saúde emocional. É liderar com compaixão, mas sem permitir que a empatia se torne absorção de dor alheia até o colapso.
Jesus, nosso modelo supremo, orava antes de escolher os discípulos (Lucas 6:12). Ele retirava-se para lugares solitários (Lucas 5:16). Conhecia a multidão, mas não se entregava a ela (João 2:24-25).
Tinha clareza emocional: chorou em Getsemani, mas não desistiu. Foi movido por compaixão, mas manteve o propósito. Ele foi plenamente humano e perfeitamente equilibrado.
Nós, então, seguimos seus passos. Cuidar de si não é egoísmo; é fidelidade ao chamado. Um poço vazio não pode saciar sede. Um farol apagado não guia navios. Por isso, cultivar autoconhecimento, estabelecer limites saudáveis, buscar acompanhamento, descansar com intencionalidade — tudo isso é ato de piedade prática.
Afinal, o templo do Espírito Santo somos nós (1ª Coríntios 6:19). E se negligenciamos esse templo, comprometemos toda a missão.
Que aprendamos, pois, a pastorear com o coração, mas também com sabedoria. Que cuidemos das ovelhas, sem deixar que o pastor desfaleça no meio do caminho.
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